sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Entrevista à Hakim bey

ENTREVISTA COM HAKIM BEY NA HIGH TIMES MAGAZINE 
Zero Boy
Muito antes dele se tornar uma lenda “cult”, eu ouvi pela primeira vez
o nome do misterioso e esquivo Hakim Bey quando girava o dial do rádio
em Nova York. Ele foi mencionado em um programa da WBAI FM chamado “A
Cruzada Moura Ortodoxa”. Mas logo, amigos estavam falando em surdina
sobre suas buscas à Zona Autônoma Temporária. Intrigado, eu procurei
pelo clássico underground de Hakim, T.A.Z., A Zona Autônoma
Temporária: Anarquismo Ontológico e Terrorismo Poético (Autonomedia,
po Box 568, Brooklyn, ny 11211). Eu o achei numa pequena livraria
esotérica que tinha desde trabalhos de Emma Goldman até Aleister
Crowley. Eu comecei a perguntar sobre a Sociedade do Anarquismo
Ontológico e sobre esse enigmático Hakim Bey. Ninguém sabia como
chegar ao efêmero Hakim. Ligar para os editores dele me deixou ainda
mais frustrado.
Hakim Bey também lançou um CD declamado com música de Bill Laswell
pelo selo Axiom, chamado também de TAZ. Então eu os contatei também -
inutilmente. Então um dia eu acho um bilhete na minha cama dizendo
para vir à Rua Mott às 9 da noite para uma entrevista. Como isso veio
parar aí? Na Rua Mott, um carro anônimo encosta e me leva a um obscuro
restaurante num porão em Chinatown, onde uma cabine privada com
cortinas está separada, com um pequeno narguilé e um prato cheio de
Bolas de Templo Nepalesas(1). Sou convidado a entrar.
HIGH TIMES: Hakim, de onde você é?
HAKIM BEY: Bem, a informação padrão (que é tudo que eu falo) é que eu
era um poeta da corte de um principado sem nome no norte da Índia, que
eu fui preso na Inglaterra por um atentado anarquista a bomba e que eu
vivo em Pine Barrens, Nova Jersey, em um trailer da Airstream(2).
Quando eu venho a Nova York eu fico num hotel em Chinatown.
HT: O que é a Zona Autônoma Temporária?
HB: A Zona Autônoma Temporária é uma idéia que algumas pessoas acham
que eu criei, mas eu não acho que tenha criado ela. Eu só acho que eu
pus um nome esperto em algo que já estava acontecendo: a inevitável
tendência dos indivíduos de se juntarem em grupos para buscarem
liberdade. E não terem que esperar por ela até que chegue algum futuro
utópico abstrato e pós-revolucionário.
A questão é: como os indivíduos em grupos maximizam a liberdade sob as
situações dos dias de hoje, no mundo real? Eu não estou perguntando
como nós gostaríamos que o mundo fosse, nem naquilo em que nós estamos
querendo transformar o mundo, mas o que podemos fazer aqui e agora.
Quando falamos sobre uma Zona Autônoma Temporária, estamos falando em
como um grupo, uma coagulação voluntária de pessoas afins não-
hierarquizada, pode maximizar a liberdade por eles mesmos numa
sociedade atual. Organização para a maximização de atividades
prazeirosas sem controle de hierarquias opressivas.
Existem pontos na vida de todos que as hierarquias opressivas invadem
numa regularidade quase diária; você pode falar sobre educação
compulsória, ou trabalho. Você é forçado a ganhar a vida, e o trabalho
por si só é organizado como uma hierarquia opressiva. Então a maioria
das pessoas, todos os dias, tem que tolerar a hierarquia opressiva do
trabalho alienado.
Por essa razão, criar uma Zona Autônoma Temporária significa fazer
algo real sobre essas hierarquias reais e opressivas – não somente
declarar nossa antipatia teórica a essas instituições. Você vê a
diferença que eu coloco aqui?
No aumento da popularidade do livro, muitas pessoas se confundiram com
esse termo e usaram ele como um rótulo para todo o tipo de coisa que
ele realmente não é. Isso é inevitável, uma vez que o próprio vírus da
frase está solto na rede (para usar metáforas de computadores). Se as
pessoas usam erroneamente ele ou não isso não é tão importante, porque
o significado está incrustado no termo. É como um vírus verbal. Ele
diz o que significa.
HT: Uma Zona Autônoma Temporária necessariamente se abstém do uso do
dinheiro?
HB: Isso é difícil em uma situação real, mas pode acontecer. O Rainbow
Gathering (3), por exemplo, se abstém do uso do dinheiro. Isso é quase
que uma garantia de um grau muito maior de autonomia temporária para
as pessoas que estão participando.
Eles na realidade aumentam seu prazer saindo fora da economia de
dinheiro/mercadorias.
HT: A imprensa ligou o fenômeno TAZ ao movimento cyberpunk. Você acha
que a Internet é uma Zona Autônoma Temporária?
HB: Não. Um mal entendido muito peculiar veio à tona. A revista Time
fez uma matéria sobre o ciberespaço que me citou erroneamente - o que
me deixou particularmente feliz. Se a Time entendesse o que eu estava
falando, eu seria forçado a reestruturar toda minha filosofia, ou
talvez desaparecer pra sempre em desgraça.
Eles diziam que o ciberespaço era uma Zona Autônoma, e eu não
concordo. Enfaticamente não concordo. Eu acho que a liberdade inclui o
corpo. Se o corpo está em um estado de alienação, então a liberdade
não é completa em nenhum sentido. O Ciberespaço é um espaço sem corpo.
Ele é, de fato, um espaço abstrato e conceitual. Não existe cheiro
nele, nem gosto, nem sentimento e nem sexo. Se qualquer uma dessas
coisas existe lá, são apenas simulacros dessas coisas e não elas
mesmas.
A única coisa que a Internet ou o cIberespaço podem ter com relação à
Zona Autônoma Temporária é que eles são instrumentos ou “armamento”
para alcançar a liberdade. Então é importante trabalhar para proteger
as liberdades de expressão e comunicação que estão abertas neste exato
momento pela Internet contra o FBI e Clinton e a “Infobahn” (um bom
termo em alemão para designar a auto-estrada da informação). Cuidado
para não ser atropelado na Infobahn! Comunicando-se por uma BBS(4), um
grupo pode planejar um festival de maneira muito mais eficaz, alguma
coisa como um Rainbow Gathering, estruturado nas chances para
maximizar o potencial para o surgimento de uma TAZ real. A Internet
também pode ser usada para montar uma rede econômica alternativa
genuína. Trocas e permutas trilhadas na Internet em comunicações
privilegiadas.
HT: Você pode explicar o “Terrorismo Poético”?
HB: Por terrorismo poético eu entendo ações não-violentas em larga
escala que podem ter um impacto psicológico comparável ao poder de um
ato terrorista - com a diferença de que o ato é de mudança de
consciência. Digamos que você tem um grupo de atores de rua. Se você
chamar o que você está fazendo de “performance de rua”, você já criou
uma divisão entre o artista e a audiência, e você alienou de si mesmo
qualquer possibilidade de colidir diretamente nas vidas diárias da
audiência. Mas se você pregar uma peça, criar um incidente, criar uma
situação, pode ser possível persuadir as pessoas a participar e a
maximizar sua liberdade. É uma estranha mistura de ação clandestina e
mentira (que é a essência da arte) com uma técnica de penetração
psicológica de aumento da liberdade, tanto no nível individual quanto
no social.
HT: Você pode fazer algumas sugestões especial ao leitor da HIGH TIMES
para criar uma TAZ?
HB: Ok, tudo bem. Eu gostaria de dizer isso ao movimento canabista, e,
em um nível mais amplo, eu gostaria de direcionar isto ao movimento
libertário em geral, que é um aliado próximo, cruza e tem áreas de
contingência com o movimento canabista.
Se os Libertários tivessem gasto os últimos quinze anos organizando
redes econômicas alternativas para potencializar a emergência de uma
Zona Autônoma Temporária e levá-la rumo a uma Zona Autônoma
Permanente, ao invés de jogar o jogo fútil das políticas de terceiros,
que é uma posição fracassada desde o início; se o movimento canabista
tivesse colocado sua energia nos últimos quinze anos na organização de
redes econômicas alternativas, não necessariamente baseadas em trocas
“criminosas” de dinheiro por maconha mas nas necessidades e
possibilidades básicas da vida real; se toda essa energia fosse
direcionada nesse sentido, ao invés do que parece para mim uma quimera
total, um fantasma totalmente abstrato chamado “poder político
democrático legislativo” - então eu penso que estaríamos há muito no
caminho claro da mudança revolucionária nessa sociedade.
Nessas circunstâncias, toda essa boa intenção e grande energia foi mal
direcionada em um jogo - um jogo em que a autoridade cria as regras, e
nas quais “eles” criaram as regras para que pessoas como eu e você não
possam ganhar poder dentro desse sistema.
Agora isto é uma crítica anarquista que eu estou fazendo, com os
motivos mais camaradas possíveis. Eu acho que é uma tragédia essa
energia ter sido mal direcionada. Eu não acho que é tarde demais para
acordar e ver o que está na verdade acontecendo(5) aqui.
Outro ponto que eu gostaria de falar é que a HIGH TIMES foi
particularmente culpável durante a última eleição, quando conclamou
seus leitores (incluindo uma grande porcentagem de usuários de maconha
nesse país) a votar naquele Clinton filho da puta, baseado em um rumor
extremamente suspeito: de que Al Gore, um conhecido mentiroso,
hipócrita e embusteiro, cochichou pra alguns ativistas da maconha que
ele estava do lado deles. E por isso, presumivelmente, milhares, se
não milhões, de fumantes de maconha saíram e votaram em um outro bando
de filhos da puta, se esquecendo toda a sabedoria do antigo slogan
anarquista, “nunca vote, isso só encoraja os bastardos.”
Eu vou fazer uma aposta agora. Eu como a edição da revista em que isto
será impresso se, sob a administração Clinton, existirem quaisquer
melhoras na lei relacionada ao uso da cannabis por prazer. Pode haver
um pequeno abrandamento no uso da maconha medicinal ou comercial. Mas
não haverá abrandamento - de fato, somente haverá uma maior regulação
- no uso da erva por prazer. Ok? E se isso não for verdade, eu como a
porra da revista com uma merda de um leite e um açúcar.
HT: Isso seria um ato de terrorismo poético?
HB: Heh, heh.
HT: Você acha que o movimento canabista é contraproducente em alguns
aspectos?
HB: Antes de qualquer crítica, eu preciso enfatizar que eu pertenço a
uma religião em que a maconha é um sacramento, e eu sou um defensor
vitalício de ações pró-maconha. Eu uso o termo “ação” ao invés de
“legalização” por uma razão muito específica, na qual eu vou chegar.
Daí eu ofereço crítica em um espírito construtivo. Eu quero que isso
fique bem claro, como Nixon costumava dizer.
Nos anos em que vêm existindo um movimento pela legalização da
maconha, todas as leis desse país ficaram piores e mais opressivas. No
tempo em que vêm existindo um movimento de legalização da maconha, o
preço da erva ficou proibitivamente caro por causa da Guerra às
Drogas. Existe aí uma relação direta entre a Guerra às Drogas e o
movimento pela legalização da maconha? Provavelmente não muita. Porém,
tagarelar tudo todo o tempo e fazer tudo aberto, deixando as
estatísticas e listas de discussões disponíveis para as agências de
inteligência e outras não é uma tática boa quando você está na verdade
lidando com uma substância ilegal.
Eu acho que temos um complexo de mártir nessa situação. Existem
pessoas que querem confrontamento contra uma projeção psicológica do
que eles acham que é a “autoridade”. Em outras palavras, contra quem é
relativo à autoridade de um jeito autoritário. Simplesmente por
desafiarem abertamente essa autoridade, eles estão se definindo como
criminosos e vítimas do estado.
HT: Você acha que eles poderiam usar um pouco de terrorismo poético?
HB: Eu acho que eles poderiam usar um pouco de clandestinidade sensata
e um pouco do senso do terrorismo poético, sim.
HT: Você escreveu extensamente sobre os tongs(6), as sociedades
secretas Chinesas. Você diria que a economia underground da maconha é
organizada de forma semelhante aos tongs?
HB: Absolutamente, é organizada como uma soma, como uma... bem, não é
organizada como uma soma de tongs, e é isso que é o problema. O ponto
é que um tong é uma sociedade secreta. E isto, novamente, é algo que
não é somente uma fantasia; é algo real. Um grupo de amigos com
afinidades que se junta para intensificar seu prazer e liberdade por
meios que não sejam reconhecidos como legais pela sociedade criou
inconscientemente uma tong. O que eu acho que eles poderiam fazer é
conscientemente criar uma tong. O que nós precisamos aqui é uma
estética e uma tradição de sociedades clandestinas não-hierárquicas.
Como nós organizamos verdadeiras redes secretas de permuta? Mas
também, como nós criamos uma poética desta situação, como nós fazemos
disto algo que funcione não somente num nível econômico prático, mas
também num nível imaginário, onde os corações das pessoas estão
comprometidos?
HT: Uma comunidade.
HB: Eu iria além, ao usar o termo de Paul Goodman, communitas, para
mostrar que nós estamos falando sobre algo que é mais que um arranjo a
esmo, mas realmente um objetivo pela qual nós estamos nos esforçando.
Eu vejo a Zona Autônoma Temporária como o florescimento temporário do
sucesso dessas redes. O que nós estamos esperando é que as estruturas
não hierárquicas atuais maximizem seu potencial para o surgimento de
uma TAZ.
Vamos falar sobre as redes como uma espécie de subsolo rico em
micélios que são por si só o corpo verdadeiro da planta. E ele pode se
espalhar por milhas, como você sabe. Os cogumelos que aparecem, os
frutos - eles são como uma Zona Autônoma Temporária, esses são as
florescências da rede, se eu consigo fazer aqui minha metáfora
botânica.
Uma das formas mais óbvias de florescimento é o festival: a rave, o
Rainbow Gathering, os festivais Zippies(7) e coisas como o festival
Burning Man(8) em Nevada - esses tipos de festivais espontâneos, não
regulados, não mercantilizados, que aparecem.
HT: Mas talvez eles tenham vidas, “vidas de prateleira”(9) - só uma
certa quantidade de tempo quando eles podem criar e florescer.
HB: Existem algumas coisas que são inerentemente temporárias. E
existem outra coisas que são temporárias somente porque não somos
fortes o suficiente para fazê-las permanentes. Digamos que você se
instala por alguns meses em um lugar bonito perto de uma floresta, na
beira de um lago, no verão, com alguns amigos e você tem uma TAZ
verdadeira. Erotismo e beleza natural e liberdade pra correr pelado
por aí e fumar maconha ou fazer o que você quiser. Mas como isto tudo
é movido pelo dinheiro que as pessoas têm que fazer no mercado onde
elas vendem o trabalho, isto pode durar somente um certo tempo. Nós
gostaríamos de fazer isto durar para sempre, transformado a TAZ em uma
PAZ, uma Zona Autônoma Permanente (Permanent Autonomous Zone). Nós não
temos o poder econômico para fazer isto. É temporário somente porque
nos falta o poder para fazermos isto mais permanente.
Outras coisas são claramente temporárias, e devem ser apreciadas pela
sua temporalidade. Quando a essência saiu delas nós devemos perceber
isto, e deixar esta forma em busca de outras formas. Então uma certa
quantidade do que vem sendo chamado de “trabalho de flutuação” é
necessário. Você tem que estar sintonizado com onde a liberdade e o
prazer estão sendo potencializados e onde não estão, para que você
possa espontaneamente se manter flutuando e ficar à frente desse
fenômeno. Isso é exatamente o que hordas de pessoas estão fazendo por
aí: velhos camaradas em rv´s(10), caras novos viajando
clandestinamente, está tudo acontecendo. Não estou descrevendo um
esquema utópico, é o que está acontecendo de qualquer jeito. Tenhamos
consciência disso. Vamos perceber que isso é um verdadeiro valor,
porque faz algo por nossas vidas, diferentemente de todo essa jogatina
política estúpida.
Nós somos constantemente seduzidos a colocar nossas forças e nosso
amor e nossa criatividade em objetivos que são imediatamente
reocupáveis e cooptáveis e mercantilizáveis por “eles”. Isso devia
parar.
HT: Eu vejo pessoas tendo problemas para comunicar-se com outras
porque elas estão acostumadas a se falar pela televisão. Então, quanto
você está trabalhando em uma comunidade, o primeiro passo para criar
uma TAZ seria a comunicação.
HB: Absolutamente. As pessoas estão alienadas pela mídia. Isso é algo
que tem que ser repetido constantemente. Quanto mais você se relaciona
com os meios, menos você se relaciona com outros seres humanos em sua
proximidade física. Novamente, isso não é uma grande teoria, isto é
algo que simplesmente está acontecendo. Você gasta mais tempo vendo
TV, você gasta menos tempo se relacionando com seus amigos. E quando
isto se espalha em nível social, você começa a ver algumas coisas
muito estranhas ocorrendo. A corrente tem mais força que qualquer
participação individual na corrente. Existe uma sinergia negativa, um
efeito de realimentação negativa por meio do qual sua alienação de
outras pessoas está sendo causada por televisões e rádios e filmes e
jornais e livros. Eu certamente não isento os impressos dessa crítica.
E subitamente você descobre que não é somente uma questão de
alienação, é uma questão de miserabilidade. Essa separação de você da
realidade física está fazendo você miserável.
Muitas pessoas chegaram a esse ponto. Eles não sabem o que fazer
porque nós não estamos dando a eles uma direção. Digo, radicais
fumantes de maconha não estão dando a eles uma alternativa clara e
realista, mas ao invés disso estão sonhando acordados com várias
merdas de New Age e estilo de vida.
HT: Onde as pessoas podem achar Zonas Autônomas Temporárias às quais
você estaria disposto a dizer quando e onde encontrar?
HB: Eu não posso - porque elas não existem precisamente em mapas com
coordenadas cartesianas. Existem outras dimensões que não os mapas
onde as Zonas Autônomas Temporárias podem ser achadas. Eu gosto de
metaforizar estas dimensões como dimensões fractais, o que traz toda a
questão de caos e complexidade. E uma das razões pelas quais eu não
posso te dar nenhum indicativo é porque essa é uma situação fractal
carregada de complexidade. A qualquer momento uma TAZ pode ocorrer. Em
um nível mínimo, um jantar na casa de alguém pode repentinamente
evoluir em uma TAZ. Não qualquer jantar, mas o potencial está lá
porque é organizado de uma maneira não hierárquica, para convivência.
E, em um nível máximo, você teve Zonas Autônomas Temporárias que
duraram muito mais, onde a festa na realidade continuou por alguns
anos. Quando estamos falando sobre a Zona Autônoma Temporária, per se,
como nodos realmente intensos de consciência e ação, é possível que os
seres humanos não possam aguentar muito disso. Talvez dezoito meses ou
dois anos de festa contínua seja tudo que alguém pode aguentar.
HT: Bem, eu conheço algumas pessoas...
HB: Claro! Mas nós podemos falar de Zonas Autônomas Permanentes, você
sabe, o que é um conceito diferente.
HT: Você chamaria o Rainbow Gathering de Zona Autônoma Permanente?
HB: Eu chamo ele de Zona Autônoma Periódica, o que é ainda outra
variação dessa idéia. Existem certas Zonas Autônomas que você não pode
manter o tempo todo, mas que você pode realizar com uma certa
freqüência constante, e os festivais anuais são os exemplos. O que nós
temos que fazer é evitar a mercantilização. Preciso dizer algo mais
desse assunto? Ok?
O festival é um momento intenso, mas periódico. É momentâneo, mas
periódico. Assim como no Rainbow, não é realmente necessário ser dono
da propriedade, como eles inteligentemente descobriram. Qualquer grupo
de pessoas na América pode fazer isso. Você não precisa se juntar às
tribos Rainbow e seguir seu estilo de vida (que eu particularmente não
acho atrativo). Você só faz um encontro em uma floresta nacional e
monta sua tenda fora da linha de visão, ou você pega um lugar onde
tenham poucos ursos.
No festival Burning Man, o guarda florestal mais próximo está a 75
milhas de distância, e eles converteram ele a um amigo e defensor do
festival, de qualquer jeito. É organizado por alguns artistas da
Califórnia que vão para a pior parte do deserto de Nevada, só um mar
de areia preta até onde a vista alcança, e eles fazem uma estátua
gigantesca de um homem de vime, então no último dia do festival eles
ateiam fogo a ele e todo mundo bebe um monte de cerveja e vê ele
queimar. É um tremendo sucesso e está sendo repetido sempre com uma
periodicidade anual. As pessoas amam isto. Um jornal é impresso no
lugar, uma mini estação de rádio FM é montada cada ano e todos os
tipos diferentes de pessoas vêm, de caras que moram isolados em rvs a
ciclistasa hippies, o pessoal “flower” e o pessoal Rainbow e os
hobos(11) e artistas da Califórnia. E todo mundo se diverte muito, e
então eles arrumam as malas e vão embora e esse é o fim daquilo, e o
guarda florestal não incomoda eles porque está a 75 milhas de
distância e ele gosta daquilo de qualquer jeito porque eles deixam o
lugar limpo. Então qualquer um pode fazer isso. Você não precisa
esperar pela permissão de alguma autoridade tribal.
HT: Criar uma TAZ é quase como criar o seu próprio espaço autônomo
livre em você mesmo.
HB: Eu fico repetindo a frase “maximize o potencial para o
aparecimento”. Eu sei que é uma frase meio grotesca e complicada, mas
ela precisa ser sempre inserida em qualquer frase que nós falemos
aqui. Você não pode declarar uma TAZ. Ou, se você pode, você é um
mágico muito mais eficiente do que eu. Você simplesmente não pode
decidir ter uma TAZ. Uma TAZ é algo que acontece espontaneamente.
Quando de repente você diz, uau, sabe, tem N pessoas aqui, mas tem N
mais N energia, excitação, prazer, liberdade, consciência. Certo? Esse
momento de sinergia de corrente cruzada acontece quando um grupo de
pessoas está tendo algo mais de uma situação que a soma do que os
indivíduos estão colocando nisto. Você não pode prever isto. Tudo o
que você pode fazer é maximizar o potencial para o aparecimento.
Glossário
1. Bolas de Templo Nepalesas (Nepalese Temple Balls) - nome dado para
pelotas de haxixe.
2. Airstream - Tradicional marca americana de trailers e motor-homes,
pertencente à Thor Industries. Seu website é http://www.airstream-rv.com/.
3. Rainbow Gatherings - festival-encontro dos participantes da
“Família Arco-Íris da Luz Viva”(Rainbow Family of Living Light), que
na realidade não é uma organização, mas diferentes pessoas que pregam
a construção de pequenas comunidades, não violência, estilo de vida
alternativo, Paz e Amor, e tradições indígenas americanas. Esse
encontro, que acontece anualmente, tem por objetivo rezar pela paz no
planeta.
4. BBS - Bulletin Board System, um termo de informática que designa
uma base de dados de mensagens acessível pela Internet, ou melhor
ainda, um mural de recados eletrônico.
5. No original, “I don’t think that it’s too late to wake up and smell
the coffee here.”
6. Tong - sociedade secreta chinesa, do cantonês tong, “assembléia de
todos”.
7. Festival Zippy - encontro das pessoas da cultura zippie - que se
definem, em parte, como hippies tecnológicos, que acreditam em funções
religiosas na tecnologia. O nome vem de hippies com zip. Retirado de
http://www.fiu.edu/~mizrachs/Zippies.html
8. Festival Burning Man - festival que reúne anualmente cerca de vinte
e cinco mil pessoas, e envolve música, arte e comunidade. Retirado de
http://www.burningman.com/
9. Vida de Prateleira - extensão de tempo que um produto,
especialmente alimento, pode permanecer na prateleira de uma loja
antes de se tornar impróprio para uso; prazo de validade.
10. RV (recreation vehicles) - veículos como trailers e motor-homes.
11. hobo - Alguém que viaja de lugar a lugar procurando por lares e
empregos temporários.

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