segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Desilusão e sonho - Bruno Pontual


Sonho

Uma vida de mentiras.
Um eterno desespero.

As noites derramadas em lágrimas
Um contemplar. Um sofrimento.
As horas que passam,
Os anos que me devoram.

Fico sempre a observar
As estrelas encantadas a apontar no céu.
O som de grilos itinerantes.
As sombras peregrinas.

Nas dores existenciais restam o sopro,
A vontade de viver as minímas alegrias.
Só me resta a dúvida e as coisas que me obliteram.

Previsão - Bruno Pontual


Ao caminhar sobre a grama verde,
Vejo a minha vida se esvair aos poucos
Nos minutos velozes.
A solidão que me resta me faz temer
todo ser vivo e humanizado.
Preciso de ar, preciso me libertar.
Através da vastidão do mundo.
Através da falta de nexo,
além do que é bom e perfeito.

Será que as coisas vão funcionar desde o principio?
Para quê toda esperança, para quê todo querer?
Para quê esperar? Nada nunca foi tão lógico
ou possível.
A vida se tornou algo impossível.
A única coisa possível é o correr de um rio.
Os pássaros a voar sem caminho.
Esses vivem o que buscam,
Esses não tem nenhum tipo de dever
ou obrigações.

Talvez precisa-se viver como os pássaros,
quando se sentem enfastiados migram para uma nova vida,
libertando-se da própria que aprisiona,
do mundo que pesa sobre as costas.

sábado, 12 de novembro de 2011

Obscurantismo mental

    A mente do homem contemporâneo como de costume se volta a tudo que lhe é visível e palpável, a exagerada importância que dá à seu ego o faz um ser frágil, mais do que pode imaginar. Tudo que aparenta ser inútil para ele é impuro, sem importância e falso. Porém o homem moderno não consegue fugir de certos vícios desnecessários que repete como um ritual compulsivo.
    Alguns até acreditam serem capazes de saber o porquê de tudo, como se tudo tivesse uma explicação razoável para existir, mas muito o que há no homem é inexplicado, por isso muito do que parece inexplicado não pode ser dominado, então rapidamente se perde interesse por aquilo que não se pode exercer poder.
    O lado obscuro, intangível e hermético tem a capacidade de modificar radicalmente o modo como se pode observar tudo que é tangível e claro para os olhos. O obscurantismo da mente serve como raiz para uma estrutura resistente, que se fundamenta em uma aparente instabilidade, mas é desse ambiente caótico que pode nascer da criatividade e a força. Os povos bárbaros e selvagens de forma geral tinham um espírito bélico, porém reconheciam que não se pode vencer os génios quem habitam a natureza, eles tinham a consciência que faziam parte de um todo e que nunca seriam capazes de superar a natureza em toda sua vastidão. O homem primitivo se entregava aos seus instintos sabendo que não poderia resistir a sua força e vigor, podia enfrentar animais gigantescos, podia lutar contra tribos rivais, mas não podia lutar contra o mistério que a natureza guarda por trás de sua aparência.
      Essa natureza inconstante do instinto nunca pode ser rejeitada, deve-se aprender com os antigos que sabiam como podia ser destrutivo resistir ou tentar se esconder desse mundo incompreensível. A única maneira de entrar em contato com esse mundo é ser totalmente receptivo, se entregar de forma consciente. Os antigos utilizaram diversa formas para chegar a um estado alterado de consciência, com danças, música, sonhos, etc. Tudo isso libera uma grande carga emocional e inconsciente, transportando a consciência para outros estados pouco conhecidos, transcendendo o comportamento habitual, atingindo um nível bastante profundo de si mesmo.
     Fiz uma experiência com escrita automática a um tempo e percebi como a mente racional rapidamente dissolve-se em estímulos inconstantes e impulsivos, essa é uma maneira de entrega aos impulsos ditos automáticos. Diante da minha razão o uso do automatismo parecia inútil, mas na minha insistência logo se diluiu numa vulnerabilidade e fragilidade.
      Tudo que parece desconhecido carrega uma carga de energia rara, tudo que é misterioso e estranho causa curiosidade ou mesmo repulsa. Mas é disso que os povos antigos extraíram todo seu conhecimento e sabedoria, dos mistérios da natureza. A loucura em muitos cultos era venerada como uma benção dos deuses, pensava-se que espíritos estavam por trás de todo tipo de sensação, do medo até a tristeza, parecia muito mais simples e menos perigoso julgar que tais pessoas estavam sob influência de espíritos, hoje os diversos tipos de neuroses e patologias parecem pesar sobre determinada pessoa, pode servir como um tipo rótulo que reforça o preconceito.